História da Neuropsicologia

Considerada uma ciência ainda “jovem” em termos históricos, a Neuropsicologia, é um ramo da Psicologia que está em constante evolução. Você conhece a história dessa área?

No mundo antigo

Entre as mais antigas informações escritas sobre o sistema nervoso, destaca-se o papiro descoberto no Egito por Edwin Smith, no século XIX. Esse papiro é um verdadeiro tratado de cirurgia e contém a descrição clínica detalhada de pelo menos 48 casos com os respectivos tratamentos racionais e prognósticos (favorável, incerto e desfavorável). Vários desses casos são importantes para a neurociência, pois neles se discute o encéfalo (o termo aparece pela primeira vez neste documento), as meninges, o líquor, e a medula espinhal (Pinheiro, 2015).

Idade contemporânea

Dando um salto temporal, em 1809, Gall propôs a frenologia que a superfície do cérebro estava associada a diferentes órgãos cerebrais, cada órgão com uma função específica e traços de caráter (Miotto, 2017). No final do século XIX, o localizacionismo de Broca, Harlow, Wernicke é caracterizado pela relação simples de cada função com uma região específica do cérebro. Como na época os exames de imagem não existiam, os estudos eram feitos apenas com observação clínica do caso e avaliação anatômica. Esses estudos indicavam que cada função cognitiva é independente entre si e possuem componentes orgânicos específicos (Fuentes, 2016). Esta visão fez com que a neuropsicologia se desenvolvesse no meio acadêmico. Em uma conferência nos EUA em 1913, que o termo Neuropsicologia foi utilizado pela primeira vez por William Osler.

Porém, essa não é a única forma de pensar a relação mente-cérebro. Pierre Flourens e, posteriormente, Karl Lashley destacavam-se entre os proponentes de uma visão holística do funcionamento neural, segundo a qual o cérebro atua como um todo integrado.

Outro autor histórico e importante para o desenvolvimento da Neuropsicologia, foi o russo Alexander Luria (na imagem destacada ao lado). Foi um dos grandes estudiosos da escola russa, especialmente da Universidade de Moscou, que procuravam relacionar os efeitos do ambiente para o desenvolvimento cerebral. Com a morte precoce de Vygotsky, seu colega na universidade, Luria deu continuidade ao desenvolvimento da teoria de Zona do Desenvolvimento Proximal e fases de desenvolvimento cognitivo, difundindo, assim, os estudos da neuropsicologia pelo mundo. Vygotsky pretendia descobrir argumentos consistentes para uma Psicologia que explicasse as funções mentais superiores, próprias dos seres humanos, por meio de patologias em adultos, ou mesmo com base no desenvolvimento infantil (Glozman, 2017).

Com bases nessas ideias de Vygotsky, Luria estudou o desenvolvimento neuropsicológico humano, em especial, as funções mentais superiores e a correlação desse desenvolvimento com o meio social e cultura no qual o indivíduo está inserido (Glozman, 2017).

Brasil

No Brasil, o neuropediatra Antonio Lefèvre publicou, em 1950, os primeiros estudos no campo da neuropsicologia relacionando a psicopatologia da afasia em crianças. Em 1971, a psicóloga Cândida Camargo e o neurocirurgião Raul Marino Júnior fundaram a unidade de neuropsicologia da Divisão de Neuropsicologia Funcional no Instituto de Psiquiatria, no Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da USP, com o objetivo de avaliação e monitoramento de pacientes com quadros neuropsiquiátricos e neurológicos (Miotto, 2017).

Saber desse contexto histórico é importante para o desenvolvimento de conceitos que baseiam a Neuropsicologia, sua forma de avaliar e forma de reabilitar nos dias atuais.

Querem um parte dois sobre a história da Neuropsicologia? Comenta aqui embaixo.

Abraços,

Vívian F. Mendonça

Referências para o texto

Referências:

Anauate, C., & Glozman, J. (2017). Neuropsicologia do desenvolvimento humano. 1ª edição. Memnon Editora.

Malloy-Diniz, L. F., Mattos, P., Abreu, N., & Fuentes, D. (2015). Neuropsicologia: aplicações clínicas. Artmed Editora.

Miotto, E. C. (2015) Reabilitação neuropsicológica e intervenções comportamentaisRoca Editora.

Pinheiro, M. (2005). Aspectos históricos da neuropsicologia: subsídios para a formação de educadores. Educar em revista, 175-196.

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