Ao passear no centro de São Paulo, não pude deixar de ficar surpreendida sobre o fenômeno dos livros de colorir, principalmente os “Bobie Goods” com diversas versões (originais ou não). Então trago a reflexão sobre o que a neuropsicologia pode ajudar na compreensão dessa febre.

Com base em artigos científicos encontrados na PubMed e na perspectiva da neurociência e psicologia cognitiva, os cadernos de colorir para adultos têm sido estudados principalmente por seus efeitos serem similares à atenção plena (mindfulness). Consequentemente, há relação com melhoras no bem-estar mental e na regulação emocional.

Segundo um estudo feito em uma sala de espera do ambulatório detectou melhoras nos níveis de ansiedade após duas horas, ou seja, colorir os livros tem efeito rápido na redução da intensidade da emoção, trazendo sensações de bem-estar e calma para os participantes do estudo.

Além do fator emocional, existe o fator social envolvido. Sentir pertencente a grupos sociais que são valorizados e ter reconhecimento destes membros faz com que o comportamento de colorir seja mais reforçado.

O ato de colorir mobiliza diversas áreas cerebrais. O foco na tarefa estimula o córtex pré-frontal, fundamental para a atenção sustentada, planejamento e tomada de decisão. Simultaneamente, atenua a atividade da amígdala, o centro emocional do cérebro diretamente ligado ao medo e à ansiedade, o que é crucial para diminuir a resposta de “luta ou fuga” do corpo. A coordenação visual-motora, necessária para preencher os espaços, engaja o córtex parietal (responsável pelo processamento espacial) e o córtex motor (controlando os movimentos finos das mãos).

Além disso, essa concentração exigida pelo colorir ajuda a reduzir a ruminação mental e a diminuir a ativação da Rede de Modo Padrão (DMN), uma rede cerebral associada à mente divagante e à preocupação. A repetição rítmica dos movimentos e a imersão na atividade induzem um estado de relaxamento fisiológico, favorecendo a liberação de neurotransmissores como a dopamina, associada ao prazer e recompensa, e modulando a serotonina, ligada ao bem-estar e à regulação do humor.

Aqui estão os pontos principais:

• Redução do Estresse e Ansiedade: A atividade de colorir é vista como uma forma de meditação ativa ou mindfulness. Ao focar na tarefa repetitiva e detalhada de preencher cores, a mente é desviada de pensamentos intrusivos e ruminações.
• Neurociência: Esse foco pode ativar o córtex pré-frontal, associado à atenção e tomada de decisão, enquanto pode reduzir a atividade da amígdala, ligada ao medo e à ansiedade. A repetição rítmica e a concentração podem induzir um estado de relaxamento fisiológico, diminuindo a frequência cardíaca e a pressão arterial.
  • Psicologia Cognitiva: O ato de colorir permite que a pessoa se engaje em uma atividade estruturada sem a pressão de um resultado “perfeito” ou artístico, o que pode aliviar a sobrecarga cognitiva e promover uma sensação de controle. É uma distração positiva que exige apenas um nível moderado de concentração, permitindo que a mente descanse.
• Promoção do Estado de “Flow” (Fluxo): A natureza imersiva do colorir pode ajudar a induzir um estado de “flow”, conceito introduzido por Mihaly Csikszentmihalyi (se pronuncia VERIFICAR .
  • Psicologia Cognitiva: No estado de fluxo, a pessoa está totalmente absorta em uma atividade, experimentando um senso de prazer, energia e foco total. Isso leva a uma diminuição da autoconsciência e da percepção do tempo, sendo uma experiência mentalmente restauradora.
• Melhora da Atenção e Concentração: Embora não seja um exercício cognitivo complexo como aprender um novo idioma, o colorir exige atenção aos detalhes, coordinação motora fina e escolhas de cores, o que pode atuar como um “treino” leve para a atenção.

Em resumo, os cadernos de colorir são vistos mais como uma ferramenta de autorregulação emocional e promoção do mindfulness, auxiliando na redução do estresse e da ansiedade, do que como um método de “treino cerebral” direto para funções cognitivas complexas.

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